"O problema dos vícios é que nunca acabam bem. Mais cedo ou mais tarde, aquilo que nos deixava feliz, deixa de ser bom e começa a fazer estragos. Dizem também que a gente não larga o vício enquanto não chegamos ao fundo do poço. Mas quando sabemos quando chegamos lá? Não importa o quanto o vício nos faz estragos. Às vezes..."
Grey's Anatomy
Tenho
dificuldade em me expressar. Prefiro resolver as coisas dentro de mim do que me
expor de alguma maneira.
Recorro
ao silêncio quando há qualquer tentativa de diálogo. Fujo desses diálogos
proferindo curtas frases e até dizendo algo de que não vão gostar de ouvir.
Tento
até soltar alguma coisa, mas as palavras são um produto de alto teor pra mim.
Sou crítico. Minhas opiniões mudam e minha boca diz, muitas vezes, o que não
acho. Direciono meu olhar para tudo e guardo meus pensamentos sobre situações,
sobre pessoas, inclusive as que afirmo amar.
E podem ser maus pensamentos.
Sou
resistente, sou firme, rígido. Não abdico por nada e me imponho o máximo que eu
puder. Não posso cogitar a hipótese de pedir perdão ou de afirmar que está tudo
errado. Tô sempre preparado e tenho mais acertos do que erros.
Meu
humor é bipolar. Sou educado e afetuoso em relações superficiais, com meus
íntimos posso me aliviar dando a eles o meu desprezo, meu silêncio ou mesmo
meus gritos, minha grosseria em frases que laceram. O mundo lá fora me conhece
como bom moço. Mas os de dentro conhecem o monstro que consigo ser.
Não
penso muito sobre ter uma propriedade, um lar sem antes trocar esse veículo.
Este é o que mais me estimula. Se preciso andar alguns poucos metros, recorro
ao carro de quatro portas que fiz de tudo para comprar e encaixá-lo à bolsa de
um curso simples em uma universidade.
O
mundo sou eu e o carro.
Dependo
muito de minha família e por vezes não consigo me escapar dela. Isso não quer
dizer que a valorizo como deveria. Vou usando os cartões, determino as
necessidades e os demais imaginam que sou bem de vida. Meus pais fazem parte do
nível socioeconômico que não tem medo do trabalho e que não tiveram um terço do
que tenho hoje. Mas essa minha consciência nem sempre sobrevive.
Tenho
facilidade em me penetrar e me entregar a contatos aleatórios no mundo virtual.
Vez ou outra saí para dançar e prolonguei isso em conversas picantes no
computador e nunca saí do estado de MG.
Sempre
estive aqui. Raramente faço algo inesperado. Sou sensível no começo, talvez
quando se tem algum interesse. Mas depois só sei dizer que está tudo bem.
Não
tenho compaixão. Procuro me redimir mecanicamente falando para não perder.
Isso, NUNCA!
Apresento
opiniões, mas não me abro para elas. Não vejo meus defeitos, eu os camuflo.
Elevo minha voz facilmente e encerro rapidamente um assunto quando não quero
mais falar. Falar pra mim não tem valor.
Ouço
as mesmas músicas. Não leio nada. Não assisto nada além do popular. Não
escrevo. Não tenho apreço por estudos. Sou prático e objetivo. Penso em
posições melhores, mas não na labuta, não sou bobo.
À
minha volta, familiares possuem o mínimo que não tenho, mas convivo bem com
isso porque é agradável no meio da roda dizer quem são meus primos e tios bem
sucedidos.
Tenho
poucos contatos pessoais do tipo poesia e alguns, dos poucos, me incitam a ser
o pior do que sou, uma dose a mais.
Me
apresento como algo em que muitos desprezariam, mas não procuro mudar.
Em
poucos períodos de tempo sou caloroso. É notável que nunca me entrego.
Sou
fraco, na verdade, sou carente. Carrego mágoas, tristezas. Queria algo melhor,
queria poder ser melhor, mas não consigo. É mais prático ser nocivo às pessoas.
Agir com as minhas próprias regras sem sequer ceder.
Alguém
que me ama muito já sabe tudo o que aqui escrevi e, por amor, empurrou isso,
essa de namoro, empurrou com a barriga há meses toda uma história. E esse
alguém, eu não o amo como antes, mas por comodismo, eu quis ficar. O comodismo
é algo intermitente em mim. É provável que eu vá sentir falta desse amor, de
toda intimidade construída, que este, quem me ama, estiver em outra página.
Entretanto,
no momento, eu não me importo com ele, com a minha família, e, nem mesmo,
comigo mesmo.
Às 01h14min do dia 04 de janeiro de
2014
Autoria: Semente do que ainda virá