Nós
nos enganamos muito quando afirmamos que a Vida faz ou deixa de fazer certas
coisas que nos envolvem. Porque o que realmente acontece é que chegamos nesse
mundão, que por vezes parece um enorme e caloroso campo de futebol, e ela já
está ali, bem do nosso lado, aguardando tanto como nós mesmos, as coisas que
estão por vir.
A
Sociedade é a que deixa ou não de fazer alguma coisa. E aí nós atribuímos a
essas atitudes, aquilo que nos foi dado desde a primeira mecânica respiratória
e tem uma preciosidade tão considerável, que chega a ser indecifrável.
Sair
por aí vivendo é algo muitíssimo desafiador. São tantas as exigências sociais
e, ainda por cima, se fizeres parte de uma classe socioeconômica menos
favorecida, essas doses de “faça porque você tem que ser alguém na ‘vida’”,
aumentam bastante.
Então,
diante do início de nossa trajetória ao mundo e a Sociedade mais ou menos
acabada a qual nos deparamos, damos início a uma série desesperadora de
experiências. Aprendemos os ensinamentos que nos fazem ler e escrever sozinhos,
começamos a trabalhar entendendo que a grana no fim do mês vai nos permitir
fazer certas coisas, mergulhamos num lugar que se chama UNIVERSIDADE e daí
descobrimos que nada somos de verdade. Enfim, sofremos um conjunto de emoções
distintas uma das outras e quase que sempre culpamos a Vida por algo que não
corresponde ao nosso “script interior”.
E
então, como se não bastasse sermos ousados o bastante para vir ao mundo, ter um
casamento inerente com a Vida e sofrer diversas influências das situações, dos lugares, das experiências e de outras
vidas, nós pegamos uma vida especificamente e no ápice de nossas carências,
teimamos em elaborar um romance junto à ela.
Enganam-se
aqueles que pensam que isso é lindo ou perfeito demais que possa, no fim das
contas, ser fácil. Ser você, ter a sua própria vida já consome muito de suas
energias e no descontrole de não se relacionar consigo mesmo, se comprometer
com um outro alguém tende a piorar o cenário deixando-o demasiadamente caótico.
Uma
das idiotices que a Sociedade já plantou foi o ditado de que “Os opostos se
atraem”. Dando uma conotação de que, mesmo que você não seja nadinha parecido
com seu parceiro, que você não queira pelo menos um terço daquilo que ele quer
para o futuro, que mesmo assim o amor pode existir sem nenhum tipo de
adversidade. E agora me diz, como?
Nada
na Vida é regra e a Sociedade ainda não conseguiu internalizar isso. Mas
certezas absolutas como essas só servem para quebrar nossas expectativas. Nós
somos a soma daquilo que pensamos, fazemos, sentimos e sonhamos. Se sabemos que
cada um nasce já tendo compromisso importante consigo mesmo e tendo que encarar
um planeta Terra de vivências, como aceitar que trilhas tão opostas em termos
de caráter, vão se compatibilizar? Quem foi o autor dessa loucura e quem são os
tolos que fortalecem essa idéia?
Não
quero meramente dizer que devemos ser iguais. Não. Talvez toda essa reviravolta
aqui escrita sirva para expressar aquilo que está um pouco preso dentro de mim.
Muitas pessoas ajudam você a ser quem é. E aí você vai caminhando acreditando
que não parar, é o melhor a se fazer.
Contudo,
algumas vidas, no sentido mais afetivo que eu poderia mencionar, não vão
funcionar bem com você. Porque geralmente são sujeitos que não entenderam sua
própria Vida e são preenchidos por um acúmulo exacerbado de auto estima, ditam
as regras demais, não se movimentam para novas experiências e se restringem a
um balde pequeno de água quando se poder alcançar um mar. São pessoas que
constroem seu caráter sem os ingredientes daquilo que aprenderam em casa, dizem
uma coisa, fazem outra e aí você cisma de querer um alguém assim e a querer
acreditar que vai valer a pena. Que esse indivíduo gosta de você como você o
ouve dizer.
Comprar
no mercado o sofrimento em embalagens diferentes é uma “puta sacanagem”. Gastar
uma compra inteirinha com expectativas quebradas e discussões que não acabam
mais é perder tempo de Vida, tempo de ser quem você é e tempo de querer
executar aquilo que tanto sonhou. Nem
sempre os opostos se atraem porque tem sempre algum arrogante que precisa estar
com um outro arrogante, porque tem sempre algum infiel que vai se entender
muito bem com um outro infiel, porque tem sempre um ser exageradamente
inexperiente e relutante com as mudanças que não vai se enquadrar a alguém que
sempre quis aprender mais. A alguém que tem anseio por amar seriamente, que
quer alçar novos vôos e que acredita que um compromisso com a Vida, seja no
âmbito profissional, educacional e outros, deve fazer parte do alicerce.
Os
opostos não têm que se atrair porque cada um tem a sua receita e o seu toque
culinário. O tempo passa depressa e não são todas as imagens que conseguimos
captar. Ofertar parte de nós para alguém que faz da “carne cardíaca” um músculo
para churrasco, é abusivo! É ridículo! Temos variedades. Temos possibilidades.
Se
mesmo com muito “amor” o entendimento em meio a esses opostos não for
concluído, sobretudo por um bom tempo já percorrido, sinceramente, estariam
cuspindo na própria Vida.
Muitas
das vezes os opostos só vão conseguir se atrair quando compreenderem quem são
de verdade e o que podem colher diante daquilo que plantam.
Às 09h26min do dia 02 de outubro de 2014.