Via Semente - Ela e os seus girassóis...

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Ela sempre gostou de girassóis, muito embora todos dissessem que as rosas eram mais perfumadas e mais belas. Ela sempre ia ao seu jardim regar aqueles girassóis e aproveitava para depositar sobre eles, todas as suas esperanças. Sim, ela apenas acreditava. Acreditava no amor, na verdade daqueles girassóis, no fundo, ela acreditava na sua própria coragem.

Entretanto o regar daquelas flores era movido por uma constante incerteza. A incerteza da entrega, da reciprocidade, da fidelidade. Ela regava pouco porque esquecia de si mesma, ela quase não regava porque a tristeza inundava o seu existir e ela mal conseguia ir até o seu jardim.

Sua sensibilidade ao mesmo tempo em que fazia viver aqueles girassóis a fazia morrer, porque o mundo a sua volta sustentava outra lógica do existir, do sentir, do dedicar-se. Seus girassóis sentiam a sua ausência e ela, movida pelas decepções e pela falta de esperança não conseguia enxergar isso.

Mas as boas almas a procuravam em forma de abelhas sadias e vívidas. No “zum zum zum” de seus murmúrios elas sussurravam aos ouvidos dela que cuidar daqueles girassóis compunha nada mais e nada menos que a sua verdadeira essência. Ela precisava voltar ao ser jardim não apenas para manter vivos os girassóis, mas para continuar viva, para caminhar e poder ter acesso a um mundo que ainda é grande e cheio de possibilidades. Apesar de sua lógica doentia do existir, do sentir, do dedicar-se...

Ela permitiu que suas papilas gustativas sentissem cada gota daquele mel ofertado pelas almas vivas e sentiu um prazer indescritível ao mesmo tempo em que voltava a encher aqueles girassóis de água, de fé. E então ela passava a respirar melhor e a sentir toda a poesia que é o pulsar do seu próprio coração com muito mais propriedade, força, fôlego...

Ela é frágil e por vezes não rega seus girassóis, não volta ao seu jardim, porque afinal de contas é triste e difícil ser amor quando uma onda de outros seres querem ser apenas práticos e objetivos. Mas ela não se permite falecer por completo justamente por ter a sabedoria e grandiosidade de perceber que para a salvação do mundo e dessas pessoas digestivas, só há um remédio, um amor, o amor, seja como for!

Lucas Teles, às 09h48min do dia 05 de junho de 2017.

Para Bocatto, com muito, mas muito amor e carinho.

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