Via Semente - Ela e os seus girassóis...
05:51
Ela
sempre gostou de girassóis, muito embora todos dissessem que as rosas eram mais
perfumadas e mais belas. Ela sempre ia ao seu jardim regar aqueles girassóis e
aproveitava para depositar sobre eles, todas as suas esperanças. Sim, ela
apenas acreditava. Acreditava no amor, na verdade daqueles girassóis, no fundo,
ela acreditava na sua própria coragem.
Entretanto
o regar daquelas flores era movido por uma constante incerteza. A incerteza da
entrega, da reciprocidade, da fidelidade. Ela regava pouco porque esquecia de
si mesma, ela quase não regava porque a tristeza inundava o seu existir e ela
mal conseguia ir até o seu jardim.
Sua
sensibilidade ao mesmo tempo em que fazia viver aqueles girassóis a fazia
morrer, porque o mundo a sua volta sustentava outra lógica do existir, do
sentir, do dedicar-se. Seus girassóis sentiam a sua ausência e ela, movida
pelas decepções e pela falta de esperança não conseguia enxergar isso.
Mas
as boas almas a procuravam em forma de abelhas sadias e vívidas. No “zum zum
zum” de seus murmúrios elas sussurravam aos ouvidos dela que cuidar daqueles
girassóis compunha nada mais e nada menos que a sua verdadeira essência. Ela
precisava voltar ao ser jardim não apenas para manter vivos os girassóis, mas
para continuar viva, para caminhar e poder ter acesso a um mundo que ainda é
grande e cheio de possibilidades. Apesar de sua lógica doentia do existir, do
sentir, do dedicar-se...
Ela
permitiu que suas papilas gustativas sentissem cada gota daquele mel ofertado
pelas almas vivas e sentiu um prazer indescritível ao mesmo tempo em que
voltava a encher aqueles girassóis de água, de fé. E então ela passava a
respirar melhor e a sentir toda a poesia que é o pulsar do seu próprio coração
com muito mais propriedade, força, fôlego...
Ela
é frágil e por vezes não rega seus girassóis, não volta ao seu jardim, porque
afinal de contas é triste e difícil ser amor quando uma onda de outros seres
querem ser apenas práticos e objetivos. Mas ela não se permite falecer por
completo justamente por ter a sabedoria e grandiosidade de perceber que para a
salvação do mundo e dessas pessoas digestivas, só há um remédio, um amor, o
amor, seja como for!
Lucas
Teles, às 09h48min do dia 05 de junho de 2017.
Para
Bocatto, com muito, mas muito amor e carinho.
0 comentários